segunda-feira, 21 de junho de 2010



"encomendei essa caixa de madeira

clara, exata, quase um fardo pra carregar

eu diria que é um ataúde de anão

ou de um bebê quadrado

não fosse o barulho insurdecedor que dela escapa


está trancada, é perigosa

tenho que passar a noite com ela

e não consigo me afastar

não tem janelas, não consigo ver o que há dentro

apenas uma pequena grade e nenhuma saída


espio pela grade

está escuro, escuro (...)


como deixá-las sair?

o barulho é que mais me apavora

as silabas ininteligíveis (...)

escuto esse latim furioso

não sou um césar

podem ser devolvidos


me pergunto se têm fom

me pergunto se me esqueceriam

se eu abrisse a tranca, e me afastasse, e virasse árvore (...)


poderiam imediatamente ignorar-me

no meu vestido lunar e véu funerário

não sou uma fonte de mel

porque então recorrer a mim??

amanhã serei Deus, o generoso- vou libertá-los


a caixa é apenas temporária"




quinta-feira, 10 de junho de 2010

eu sou alice


eu sou a alice

eu gosto de dar risadas descontroladas

eu demoro 30 minutos escovando os dentes

eu pretendo rodar o mundo de mochila nas costas

eu quero ter tres filhos,mas acho que só terei dois

eu gosto de comer besteiras

eu tento sempre ser o melhor

eu tenho muito medo

eu não gosto de leite

eu sou sensivel

eu canto

eu tenho um irmão

eu choro

eu tenho pensamentos animados

eu nasci de 6 meses e meio

eu sou apaixonada pelo mar

eu passo perfume todos os dias

eu tenho sonhos engraçados

eu sou brega

eu sou inteligente

eu mato baratas mas eu me desespero com ratos

eu sou frágil

eu sou forte

eu sou independente

eu sou dependente

eu sofro

eu dou risada da minha desgraça

eu vejo friends

eu leio livro

eu sinto saudades e choro

eu compreendo o fim, dentro de mim.

eu recomeço, e reescrevo a lista


eu sou a alice...

sexta-feira, 4 de junho de 2010


"(...) Porque é obrigatório

obedecer ao inverno,

deixar crescer o vento,

também dentro de ti

até que cai a neve.

Unem-se o hoje e o dia

o vento e o passado.

Cai o frio.

Ao fim estamos sozinhos,

por fim nos calaremos (...)


Pablo Neruda