terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


Há uma saudade pulsante no peito que transita entre os confetes coloridos. É como lançar a serpentina: uma parte busca o horizonte, alcança o além, outra parte fica. Para lembrar mos da partida. Mas sentir saudades trás o antigo presente de novo e o novo foge correndo de ti, afinal estás acompanhado. Numa voz rouca e grave, que vem se ajeitando à todos os cantos da festa, os pés passeiam pelas frestas da nova alegria. Há suor e cheiros, e a surpresa; lembraremos sempre daquelas palavras:é viva, é pulsante, e está aqui pra me lembrar disso!

Correria milhas passadas, ou voaria entre nuvens etéreas, num céu cor de anil para compartilhar minhas novas descobertas, e descubro que está aí o grande tesouro: é no "sem compromisso" cantado em noite quente, perto da rua que dá no mar, com gente feita da mesma matéria que eu, qe abro de novo a janelinha pra gritar em alto e bom som que está aí a grande diferença em estar junto à um corpo-carne-sonhos : desejo compartilhar. É só. Não há ciume, nem medo, ou possessividade que resista ao que realmente reequilibra esses que estão na sala de jantar...é o principio do meu desejo: quero compartilhar-me e compartilhar-te.

Comigo agora sons, confetes grudados no meu vestido lilás suado de dança, corpo pulsante, cabelo roçando meus ombros, um travesseiro branco, e uma clareira aberta no centro da testa. Só. Mas escrevo pra poder compartilhar esse momento único dessas impressões com você

..mas é carnaval, adivinha quem gosta de mim?

meu carnaval tem samba sim senhor
tem máscara, confete, serpentina,
meu carnaval tem palco
tem gente a dançar
no meu carnaval cachaça é água
Na mesma, praça, no mesmo banco, nas mesmas flores, no mesmo jardim!
Taí......eu fiz tudo pra você gostar de mim....


meu carnaval tem um acordeon vermelho
tem um piano marcado
tem uma batuque livre
tem uma baixo apaixonante
meu carnaval tem vozes
e cantos
e eu?
eu sou colombina.......

sábado, 20 de fevereiro de 2010

ausência (blem blem blem, txi txi txi, bum bum)

eu tenho medo de dizer que faço samba
porque um samba só se faz com muito amor
Deixei o doce dos meus dias para trás
e agora o amargo não me deixa nunca mais

tentei a cura me entregando aos amigos
mas alvorada me lembrava ilusão
de que a calma dos teus braços não me abraçam
de que é de mim que me escondo, em solidão

Mas mesmo que você fuja de mim

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

a ausência (para não dizer "de enlouquecer")


Muitas são as baladas, melodias e canções sobre a ausência apaixonada. Acontece-me, por vezes, suportar bem a ausência. Estou então normal: oriento a minha atitude pela de "toda gente" que sofre a partida de uma pessoa querida; obedeço com habilidade o treino que, desde muito cedo, me acostumou a estar seperado de minha mãe- o que, no entanto, não deixou de ser doloroso (para não dizer "de enlouquecer"). Comporto-me como um sujeito bem desmamado: sei alimentar-me - enquanto espero. Essa ausência bem suportada não é senão o esquecimento. Sou, por intermitências, infiel. É a condição algumas vezes morre por excesso, fadiga e tensão de memória (como werther).

Deste esquecimento acordo muito depressa. Prematuramente arrumo uma recordação, uma confusão. Uma palavra (clássica) emana do corpo, que exprime a emoção da ausência; suspirar: "suspirar depois da presença corporal", como se cada sopro incompleto, quisesse juntar-se ao outro: a imagem do abraço, como se funde as duas imagens numa só: na ausência apaixonada, sou, tristemente, uma imagem descolada, que seca, amarelece, se encarquilha.

Interessa-me sempre o ausente pelo discurso de sua ausência; situação estranha, na verdade; o outro está ausente como referente, presente como interlocutor; estou preso entre dois tempos: o tempo da referência e o tempo da elocução: partiste (por isso me lamento) estás aí (pois falo contigo).

Ma nipular a ausência é prolongar esse momento, retardar tanto quanto possível o instante em que o outro poderia friamente converter a ausência em morte.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

amar o amor


A necessidade deste livro está contida na seguinte consideração: o discurso amoroso é hoje em dia de extrema solidão. Este discurso é talvez falado por milhares de pessoas (quem o sabe?), mas não é defendido por ninguém. Está completamente banido das linguagens circundantes: ignorado, desacreditado, ou ridicularizado por elas, cortado não somente do poder, mas também dos seus mecanismos.

Dois poderosos mitos fizeram-nos acreditar que o amor podia, devia sublimar-se em criação estética: o mito socrático (amar serve para criar uma multidão de belos e magníficos discursos) e o mito romântico (produzirei uma obra imoral escrevendo a minha paixão. Roland Barthes- fragmentos de um discurso amoroso


"anulação: Sopro de linguagem durante o qual o sujeito acaba por anular o objeto amado sob o volume do próprio amor: por uma perversão especificamente apaixonada é o amor que o sujeito ama, não o objeto"

domingo, 14 de fevereiro de 2010


"encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas amo apenas um: você..a especialidade do meu desejo (...) foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras) para que eu encontrasse você, que entre mil, convém ao meu desejo(...) por que desejo você? Por que desejo tanto tempo?(...) espero uma chegada, uma volta, um sinal..pode ser fútil ou imensamente patético(...) uma mulher espera seu amante, a noite, numa floresta, quanto a mim só espero um telefonema, mas a angústia é a mesma. Tudo é solene, nao tenho noção das proporções (...) do sabor de uma outra contingência me deixo levar pelo medo de um perigo , de uma mágoa, de um abandono, de uma reviravolta(...) na sua ausÊncia sou, tristemente, uma imagem descolada, que seca, amarelece, encarrilha(...) uma mutilada que continua a sentir a dor de uma perna amputada(...) pouco a pouco me sufoco, meu ar se rarefaz(...)ciúme, angústias, posses, discursos, apetites, signos, o desejo amoroso queima por todo lado(...) nada mais doloroso que uma voz amada e cansada, extenuada, rarefeita, exangue, poder-se-ia-dizer voz do fim do mundo, que vai ser tragada muito longe das águas frias : ela está no ponto de desaparecer, como o ser amado está no ponto de morrer: o cansaço é o próprio infinito: o que acaba de não acabar(...) pois desde que te vejo , por um instante não me é mais possivel articular uma palavra: mas minha lingua se quebra e um fogo sutil desliza de repente sob minha pele: meus olhos não tem olhar, meu ouvidos zumbem, o suor escorre pelo meu corpo, um arrepio toma conta de mim, e por pouco me sinto morrer(...)quero constantemente arrancar de você a fórmula do meu sentimento, e da minha parte digo constantemente que o amo; nada fica para que seja sugerido, adivinhado, para que se saiba uma coisa é preciso que seja dito,; mas também desde que ela seja dita, ela é provisoriamente verdadeira"

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


eu deixarei que morra em mim

o desejo de amar os teus olhos que são doces

porque nada te poderei dar

senão a magoa de me veres eternamente exausto

No entanto a tua presença

é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto

e em minha voz a tua voz